Friday, March 07, 2008

Dia da Mulher

Para todas as Divas que existem dentro de uma mulher...e nada melhor do que esta diva vir acompanhada de uma crônica super gostosa de uma grande amiga: Monica Amorim. Divirtam-se!


Crônica de uma Diva atrapalhada


Às seis horas da manhã, na 5ª avenida. Em frente à Tiffany’s. Nenhum carro na rua. Apenas o táxi que me deixou ali. Sozinha. Tudo em volta, meio cinza. Meu pretinho básico, minhas pérolas e um ar de diva. Tiro de um pacote cor de pardo, que em um trocadilho barato poderia ser prado, um biscoito Pretzel’s. Assim, como as marcas, os apóstrofos com seus genitivos... Ah eu não tenho genitivos. Ninguém me possui. Não têm apóstrofos flutuando sobre minha cabeça. Nem uma aliança em um de meus dedos. Não há gaiola me prendendo, a não ser a que eu mesma construí. Eu olho pela vitrine, as jóias suspensas, prateadas... Sim, dourado me cansa. São tão óbvios. Apenas a prata. Brilho de lua e mais nada. Então caminho pelas ruas. O chão e tudo em volta, dorme. Sei que daqui a uns minutos, todos acordarão deixando aquela rua feia e invadida. Por isso, ás vezes sonho em ter uma varanda, com mesa branca, jarra transparente com suco de laranja e frutas em baixela de prata. Varanda no alto do prédio. Para ver o formigueiro enquanto acordo em paz.Meus olhos têm delineador. Se não, ninguém repararia como são bem desenhados. Não é disfarce, é que as pessoas não têm tempo mais de reparar em meus olhos. Por isso eu os marco e os trago bem traçados assim. Em meus lábios, só um batom suave, sem marcar colarinho, que é para meus amantes não terem medo de mim. Para caminhar na 5ª avenida, precisa-se ainda de mechas imprevisíveis nos cabelos, para os homens ficarem fumando nas varandas enquanto se perguntam: qual é a cor dos seus cabelos? Por que se nem a cor do cabelo sabem, o que será que também ainda não descobriram dessa diva? Luvas não. Nunca. Porque mãos macias denotam ócio, e ócio lembra tardes inteiras de amor sem atender telefones.As costas, em pêlo. E todo o resto coberto. Os sapatos, feitos para mim. Iguais, só a de princesa oriental, escondida em casa com lâmpadas vermelhas. Uma bolsa pequena, que não traga truque, somente um perfume barato, como baratos são os caminhos para a felicidade. Um táxi pára. Na rua, pombos na calçada se assustam. É um homem. O único que conseguiu descobrir o segredo da diva atrapalhada: um misto de luxo e periferia. Uma coisa meio Audrey e meio Gabriela. Um misto de Madame Bovary e Iracema. Algo de quinta avenida em uma menina cravo e canela. Hemingway em uma tupiniquim.Assim sou eu: uma diva, atrapalhada. Com sapatos finos, porém sempre descalça. Com jóias, porém sempre nua. Com casa e varanda, porem sempre na rua.Uns braços para diva? Somente os mais fortes e sem medo de amar. Somente os mais teimosos sem chance de voltar. Uma vez amando diva, todos os dias para sonhar.
(Inspiração desvairada depois de assistir à Bonequinha de luxo, deitada no sofá com uma flor de Gabriela no cabelo).

4 comments:

Luz Fernández said...

A-M-E-I! Ilustração belíssima e o tom da crônica suave. Feliz Dia da Mulher pra ti e todas nós. bjs

Anonymous said...

Que presente!
Duas mulheres maravilhosas, inteligentes e talentosas nos brindando!
Adorei!!!!
Roberta

Anonymous said...

Que presente!
Duas mulheres maravilhosas, inteligentes e talentosas nos brindando!
Adorei!!!!
Roberta

Anonymous said...

Querida,
Você concretizou o que eu disse há poucos dias pra Mônica: que os textos dela ficariam perfeitos com as suas ilustrações... Está feito!!! Não vejo a hora de ver os livros publicados!
Beijos
Mariângela Vida